Acordei. Dei uma espreguiçada gostosa para espantar a moleza. Levantei-me e me preparei para o dia que tinha pela frente: aulas de manhã e à tarde. Li a Bíblia e conversei com Deus, afinal sem essas duas coisas, nada do que eu fizesse durante o dia teria muito valor. Tomei café e sai apressada. Já estava atrasada!!
Chegando na escola, vi que tudo estava calmo demais... Provavelmente era impressão. Já, já aqueles “milhões” de crianças apareceriam falando ao mesmo tempo, brincando, correndo. Conversei um pouco com meus colegas e ao tocar o sinal fomos para as salas e... não havia nenhuma criança... ninguém nas salas, ninguém no pátio, nem nos banheiros, e, como era de se esperar, muito menos na biblioteca....
Todas as crianças faltaram... Parecia tão estranho... Com certeza era algo inédito! Voltamos para a sala dos professores para mais um cafezinho e aproveitamos para corrigir provas, preparar aulas, etc... No fim da manhã, fomos dispensados já que não tínhamos alunos. Aproveitei para dar uma passadinha no Shopping. As lojas estavam abertas, havia muito movimento. Todos andando de um lado para o outro atrás dos melhores preços: senhoras, rapazes, moças, vendedores, funcionários e crianças... Crianças! Engraçado, eu não me lembrava de ter visto crianças: nem bebês em carrinhos, nem crianças maiores correndo pra lá e pra cá, nem crianças experimentando roupas, nem crianças tomando sorvetes,... Era como se faltasse algo, como se um pintor tivesse deixado de pintar uma cena de um quadro...
Fui pra casa pensando em tudo o que eu tinha visto, ou melhor, pensando no que eu não tinha visto: Crianças! mas o que me deixou mais preocupada foi o que aconteceu no domingo. Peguei todo o material que havia separado para a aula bíblica: figuras coloridas, brinquedos, a Bíblia, cds. Estava animada e empolgada, era um dia de festa: comemoração do dia das crianças. Preparei tudo e fiquei esperando as crianças chegarem. Esperei, esperei e.... nada, ninguém apareceu... Fui às salas dos adultos e tudo parecia normal, os pais das crianças estavam presentes calmamente participando da aula. Calmamente? Como podiam estar tão calmos? Onde estavam as crianças da Igreja? Onde estavam as crianças do mundo? Não havia mais crianças na escola, nem no shopping, nem na Igreja, nem em lugar algum.... Simplesmente, não havia mais crianças no mundo!
Fui invadida por uma sensação de perda, de tristeza, de inquietação, de questionamentos quanto ao que acontecera e quanto ao futuro da humanidade.
Fim da alegria, da inocência, da sinceridade... Fim das risadas gostosas e espontâneas, do esconde-esconde, da cara melada de pirulito, dos parquinhos... Fim das orações mais sinceras e dos louvores mais perfeitos que o Pai já ouviu. Fim das perguntas engraçadas, fim de um incansável brincar, pular, correr, ir e vir que, às vezes, nos deixa de cabelos em pé ou sem cabelos... Fim de um choro pelo machucado, do chorinho de manha ou do chorão quando algo muito sério acontece e só passa depois de um carinho... Fim do cheirinho de xampu infantil ou do suor de um bom pega-pega. Fim do rostinho sereno a dormir, cabecinha livre de preocupações e ocupada com sonhos de paz. Fim...
Acordei! Levantei-me rapidamente e corri para a janela. Olhei na rua e vi crianças brincando de bola, a mãe passeando com o seu bebê. Ufa! Era só um sonho, ou melhor um pesadelo, um terrível pesadelo.
Me arrumei e fui para a Escola onde dava aulas. No caminho encontrei mais crianças. Chegando lá, ouvi um lindo e doce som: barulho de crianças conversando, rindo, brincando, correndo. Como fiquei feliz! Todas estavam ali! Sai do trabalho e passei no Shopping, e lá estavam elas: rostinhos lambuzados de sorvete, brincando no parquinho. Domingo me preparei como de costume para a aula bíblica; fui para a Igreja e lá estavam as minhas crianças. Havia crianças por toda parte! E com elas a alegria, o sorriso contagiante, e tudo de bom que uma criança trás consigo.
Abaixei a minha cabeça, ajoelhei-me e orei: “Querido Deus, obrigada porque há crianças no mundo. Obrigada pelas crianças que Tu me destes para cuidar e ensinar a Tua palavra. Faz da minha vida um instrumento nas Tuas mãos para abençoar a vida das crianças que estão ao meu redor. Em Nome de Jesus. Amém!”
Que sejamos bênção na vida das crianças que estão ao nosso redor!
Texto adaptado pela Mis. Jacira da Silva Cordeiro da Conceição
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